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A cozinha que vira ponto de encontro
Toda quarta, por volta das 18h, a cozinha usada pelo projeto Comida no Prato ganha cheiro de alho refogado, panela grande no fogo e vozes que se conhecem pelo nome. É o dia em que voluntários se reúnem para preparar e levar cerca de 100 quentinhas ao Centro do Rio. O que começou em outubro de 2014, inspirado nas ações de Guido Schaffer, virou compromisso semanal no ano seguinte. Nada é pago, não há CNPJ nem equipe contratada. Há tempo doado, organização simples e um roteiro que só funciona porque cada um segura uma ponta.
Como a operação acontece na prática
A operação nasce dentro de uma cozinha cedida, onde o Comida no Prato encontra o espaço físico para funcionar. As doações chegam por mensagens no WhatsApp e pelo Instagram, às vezes por empresas que pedem uma lista do que falta. Em muitas semanas, os insumos aparecem com generosidade. Onde a roda emperra é na rua. Faltam motoristas com carro e três horas livres à noite. Sem eles, a comida pronta esfria no isopor e o caminho até quem precisa fica mais longo do que deveria.
Quem segura as pontas do dia a dia
Quem toca a comunicação é quem tem mais traquejo e tempo. Tatiana está desde a primeira saída e acabou cuidando do Instagram do Comida no Prato. Outra voluntária assume a parte das compras e do controle do que entra por pix. Não há segredo, apenas constância. A vida adulta cobra agenda, prova, plantão, trânsito, filhos. Quando dá, dá. Quando não dá, alguém cobre. É essa soma imperfeita que mantém o projeto de pé há mais de uma década.
Histórias que ficam na memória
A rua pede mais do que marmita. Pede um bom dia dito olhando no olho, pede cinco minutos de conversa. Ao longo dos anos, histórias se agarraram ao grupo do Comida no Prato. Uma delas tem nome e apelido. Ceará, morador de rua que costumava ficar na Cruz Vermelha, fez aniversário numa quarta. A equipe levou bolo e velas. Ele chorou de surpresa e riu da bagunça. Depois, conseguiram vaga em uma casa de acolhimento. Banho quente, cama limpa, algum sossego. Partiu algum tempo depois. Partiu lembrado.
Cuidado com a imagem e com a dignidade
O Comida no Prato tem regras de convivência não escritas e muito claras. Nada de sensacionalismo. Fotos sem rosto, salvo consentimento explícito. Mais panelas e mãos, menos exposição de quem recebe. A ideia é simples. O alimento abre a conversa. A conversa devolve nome. O nome devolve dignidade.
Entre a vontade de crescer e a realidade
Há um desconforto que aparece quando o assunto é futuro. A sensação de que as coisas andaram até certo ponto e depois ficaram do mesmo tamanho. A vontade é crescer, ampliar rotas, trazer mais gente para a cozinha e para a rua. Quem está há muito tempo no Comida no Prato sabe que crescer por crescer não sustenta. O que sustenta é ter motoristas suficientes, rotas bem combinadas, lista de itens enxuta e uma quarta que acontece sempre.
Como você pode ajudar de forma concreta
Se você leu até aqui e se perguntou como ajudar, a resposta é direta. Se você tem carro, CNH válida e três horas disponíveis em uma quarta à noite, já resolve a maior parte do gargalo do Comida no Prato. Também é possível doar alimentos e insumos, organizar kits de higiene, avisar amigos e colegas que queiram conhecer o trabalho. As portas ficam abertas às quartas, a partir das 18h, no espaço de cozinha usado pelo projeto. É ali, entre o barulho das tampas e o vai e vem dos isopores, que a cidade aprende de novo a se reconhecer. Uma quentinha por vez. Uma conversa por vez. Um nome por vez.

